Introdução
A presente memória descritiva foi realizada no âmbito da Unidade Curricular Design e Comunicação Visual, da licenciatura de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e Multimédia.
Esta proposta introduziu um novo desafio: a tipografia. Nesse sentido, antes mesmo de iniciarmos o projeto prático, partimos para uma análise pormenorizada e detalhada da contextualização teórica, onde procurámos definir e aplicar o conceito chave de composição gráfica e composição tipográfica, assim como, consciencializarmo-nos acerca da anatomia e simbologia da letra enquanto linguagem capaz de transmitir significado e evocar emoções para além das palavras faladas.
Deste modo, entende-se por composição gráfica como o processo de projetar, selecionar e organizar um conjunto de elementos visuais com vista a produzir uma composição gráfica com uma determinada mensagem. Por sua vez, designa-se por composição tipográfica como o processo de criação na composição de um texto, no qual a escolha das fontes, das cores e das técnicas constituem etapas imprescindíveis à definição do caráter e estilo da composição.
Ressaltámos, assim, que ambos os conceitos se complementam visto que um projeto para ser bem sucedido necessita de uma associação coerente entre o tipo de letra selecionado e a disposição dos elementos visuais.
Desta maneira, propusemo-nos a elaborar uma composição visual tipográfica que demonstre a aquisição e a compreensão total dos conceitos abordados. Para tal, numa 1ª fase, selecionámos um texto, neste caso, uma música que considerámos de todo atual face aos desafios mundiais do século XXI.
O tema “Where is the Love?”, dos Black Eyes Peas foi a nossa escolha, pelo facto de ser uma música que reúne em si a intemporalidade e a atualidade que procurávamos. Apesar da escolha da música, faltavanos selecionar o elemento(s) visual(ais) que seriam integrados na nossa composição. Após uma pesquisa intensiva onde procurávamos fotografias que retratassem os conflitos internacionais e as consequências nefastas dos mesmos (como morte, dor, etc), selecionámos a imagem de uma criança visivelmente debilitada e num sofrimento interminável.
Posto isto, partimos para a composição do nosso projeto, com a máxima que “uma imagem vale mais que 1000 palavras”, sem nunca desvalorizando, por completo, o poder das palavras. Assim, preenchemos o interior da imagem com as frases mais icónicas e os excertos mais chamativos, utilizando diferentes fontes, tamanhos e cores.
Destacámos, por fim, o nosso propósito de aprofundar os nossos conhecimentos nesta área do saber, bem como, compreender que a letra é mais do que um elemento estético: tem significado, sentido e gera sentimentos através do trespasse de mensagens. E, neste sentido, ressaltámos o nosso objetivo final de criar um projeto com um sentido estético e simbólico, que apele à consciência humana.
Fase Pré Produção
A fase pré-produção faz referência a todo o processo de inspiração, assim como de recolha de informação, isto é, trata-se de todo o processo precedente ao momento de concretização propriamente dito. Nesta fase ficou decidido o tema da composição, escolheu-se o texto e foi feita uma recolha de imagens de inspiração. Posto isto, alinhavou-se a composição tipográfica, e passou-se à fase seguinte.
Procurando sempre ser fiel ao texto e à mensagem por ele emitida, ficou decidido compor, através da disposição de letras e outros caracteres tipográficos, uma criança vítima do tema em questão, de modo a gerar um trabalho coerente mas também simbólico.
Escolha do Texto
Perante a iminência da escolha de um texto para servir como base da composição tipográfica, várias ideias foram surgindo. Ainda assim, após algum debate, decidimos optar por um texto com uma intervenção social de forma a que também o nosso projeto final se tornasse uma composição visual tipográfica com uma mensagem a transmitir.
Perante este propósito, o texto da música “Where is the love?” dos Black Eyed Peas foi a nossa escolha. Tratando-se de uma música do ano de 2009, achamos curioso o facto de, ainda hoje, e cada vez mais, se perpetuarem lutas do mesmo cariz.
Assim sendo, procuraremos, através da escrita de várias expressões e palavras chave, demonstrar o terror associado ao terrorismo e fazer com a que as pessoas se questionem “onde está o amor?”
O Material de Inspiração Recolhido
Composição Visual e Respetiva Interpretação
Dado como finalizado o processo de recolha de material que serviria como suporte de inspiração, debruçamos a nossa atenção para a construção da composição tipográfica.
Tendo já estabelecido o elemento gráfico (a criança) a ser empregue na composição, e o texto (“Where is the Love?”) a ser aplicado, faltava, exclusivamente, estabelecer o conceito e os propósitos da nossa tipografia.
Deste modo, considerámos que esta surge como uma campanha de sensibilização para as consequências resultantes do ódio e da intolerância do ser humano. Todos os dias, somos constantemente bombardeados com notícias que nos dão ocorrência das mais diversas atrocidades cometidas pelo Homem. As Guerras são uma realidade bastante notória, o terrorismo cresce a uma velocidade exacerbada e tudo isto causado pelo desejo desenfreado por poder e pela incompreensão das crenças individuais de cada um.
Assim, estabelecido o nosso objetivo, selecionámos a imagem de uma criança indefesa e inocente como forma de despertar a atenção do público e, assim, transmitir com clareza o teor da nossa mensagem. Desta maneira, ao apelar ao lado emocional de cada um, procurámos despoletar sentimentos de compaixão e empatia, que conduzissem o público a períodos de reflexão e introspeção.
No entanto, é de ressaltar que a própria postura da criança, ou seja, a sua coragem e audácia, visível no olhar direto, firme e, quase, intimidante, que a mesma estabelece com o observador, foi um dos fatores que nos levou a integrá-la na nossa proposta tipográfica.
Etapas Fundamentais na Construção da Composição
Letra
Iniciamos o processo de composição com a escolha das fontes a ser empregues. Desta maneira, selecionámos fontes como Rockwell condensed Bold e Rockwell bold italic ou Prestige Elite Std Bold. As primeiras são mais visíveis na faixa que contorna a cabeça da criança, já a segunda é mais evidente no corpo da mesma.
Partindo para uma análise pormenorizada de cada elemento, é possível afirmar que:
- Na faixa da cabeça, optámos por enfatizar determinadas palavras como “Terrorism”, “Drama”, “Trauma”, bem como determinados segmentos textuais como “People Killing, People dying”. No centro da faixa, selecionámos expor o título da música dada a importância do mesmo, pois reúne em si todos os pontos fulcrais da mensagem a transmitir. É de realçar que foram introduzidos, por um lado, alguns pontos de interrogação que reforçam e acentuam a perplexidade dos intérpretes face à crueldade e frieza humana, e que, por outro lado, fazem ligação com o próprio videoclip da música onde os protagonistas espalham panfletos com pontos de interrogação.
- Na face, é possível observar que:
2. As pestanas, foram desenhadas com expressões como “gasses” e “chemical” numa clara alusão histórica ao passado (ex.: bombardeamento nucleares de Hiroshima e Nagasaki) que, infelizmente, se verificou muito recentemente no ataque químico na Síria. Deste modo, ao evidenciar estas palavras pretendemos reavivar as repercussões mortíferas deste tipo de ataques.
3. A mancha de sangue foi preenchida com os excertos “Father, Father, Father, help us/ Send some guidance from above/’Cause people got me, got me questioning/Where’s the love?”. Tal escolha prende-se pelo facto de considerarmos que os mesmos constituem as ideias-chaves de toda a música, onde os autores suplicam por orientação divina e a afirmam a sua descrença na humanidade.
- Ao observar o corpo da criança, evidencia-se que:
2. No excerto “Madness is what you demonstrate”, as duas últimas letras da palavra “Madness” foram substituídas por dois símbolos do dólar ($). O dólar surge, assim, associado à ganância.
3. Por fim, salienta-se a presença de outros excertos como “Values of humanity” ou questões como “Is the World Insane?” ou até afirmações como “as I’m gettin’ older/y’all, people, gets colder” que acentuam as condenações perpetuadas pela música.
Cor
A escolha da cor é sempre uma etapa extremamente importante uma vez que a mesma é um fator determinante, que caso seja mal aplicada, condiciona a mensagem a transmitir e dificulta a compreensão do público. Neste contexto, salienta-se a preocupação tida de modo a que as cores estivessem em concordância com a mensagem que pretendemos transmitir.
Deste modo, em termos de conjugação de cores, optámos por uma paleta abundantemente preta e vermelha, com predominância desta última, dada a sua associação a conflitos registados à escala mundial e as suas principais consequências. Aliás, é de salientar a presença de diversas manchas de sangue (de várias tonalidades) no rosto e na camisola da criança. Por sua vez, optámos, também, por utilizar o preto dada a sua associação, inevitável, à morte, ao obscuro e à solidão.
Em suma, o processo de tomada de decisão relativo às cores a utilizar na composição tipográfica, contribuíram para a construção de uma sólida visão acerca da mensagem a transmitir.
Conclusão e Discussão do Resultado Final
Dado por terminado o nosso projeto, podemos afirmar que o resultado final ficou como planeado e que, principalmente, conseguimos alcançar o nosso principal objetivo: aliar a racionalidade à emotividade, isto é, a missão de elaborar um projeto tipográfico coeso e visualmente apelativo, mas também a missão de elaborar um trabalho que transportasse consigo uma mensagem de cariz social e humano, inerente à atualidade. Apesar de termos consciência de que esta é uma luta bastante difícil de serenar, esta composição tipográfica tornou-se, também, um pequeno contributo e uma tentativa de sensibilização.
Quanto ao projeto final, vários foram os desafios que emergiram desde a fase de pré-produção. Encontrar uma imagem que nos pudesse servir de “base” e de inspiração foi importante, mas também muito difícil: estava em causa escolher uma imagem com sentido, mas também fácil de trabalhar com caracteres tipográficos. Assim sendo, apostamos numa imagem onde pudessem ser conciliados caracteres de grandes e pequenas dimensões (para enriquecer a composição) e que nos permitisse, através das cores e de outros pormenores, jogar e transmitir a mensagem que estava em causa.
Para além desta dificuldade, a própria fonte e o jogo com o seu tamanho foi também algo bastante pensado. Seria impensável numa composição deste cariz utilizar tipos de letra “divertidos” ou “infantis”, porque isso iria fazer com que nos afastássemos do tema. Perante isso, foi então preciso encontrar tipos de letra mais sérios, com o tamanho adequado à frase/mensagem que lhe era inerente. O título do texto (“Where is the love?”), por exemplo, achamos que seria importante escolher um tipo de letra mais preenchido e colocar num tamanho maior, de modo a enfatizá-lo não só por ser o título, mas porque é também o cerne da questão e o cerne da mensagem.
Para concluir, e apesar de todas as dificuldades adjacentes, podemos afirmar que todo este projeto correu como planeado: foi feita uma detalhada revisão bibliográfica sobre os conceitos em questão, foram capturadas uma série de fotografias relacionadas com o tema do projeto, e, sobretudo, foi feita uma composição tipográfica que ficou visualmente e semanticamente como planeamos.
Bibliografia/ Webgrafia
- Mesquita, Francisco (2014) “Comunicação Visual, Design e Publicidade”, MediaXXI – Editora
- Kotovicz, Vinícius (2013) “Desenvolvimento de Fonte Tipográfica Digital para uso em Impressos”
- Macedo, Joana (2010) “Design por todos, Design by all” in https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/67364/2/23765.pdf
- Raposo, João (2015) “Elementos gráficos do design na editoração de Revistas Digitais” in http://conahpa.sites.ufsc.br/wp-content/uploads/2015/06/ID452_Raposo-Obregon.pdf
- http://euedesign.blogspot.pt/2012/02/tipografia.html
- https://tipodesign.wordpress.com/2011/06/27/a-anatomia-dos-tipos/


























