sábado, 18 de março de 2017

Memória Descritiva

Introdução

            A memória descritiva aqui apresentada, realizada no âmbito da unidade curricular “Design e Comunicação Visual” do curso de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tem como objetivo primordial analisar uma série de conceitos que nos foram expostos ao longo das aulas da unidade curricular e, com base nesses conceitos, elaborar a composição visual de um CD e da respetiva capa.
A composição visual é, exatamente, “uma síntese entre intelecto e emoção, entre o princípio da ordem geométrica e o da intuição” (Werner, 2015) exigindo a “distribuição harmoniosa de um conjunto de elementos visuais, em que o lugar ocupado pelas figuras, os espaços vazios que as rodeiam, as proporções, todos são importantes” (Osorio, 2012). Em suma, a composição trata-se, exatamente, do aglutinar de diversos elementos básicos (ponto, linha, forma, escala, cor, etc.) segundo variadas técnicas da comunicação visual, gerando uma composição coesa que vá ao encontro das pretensões do designer.
Perante este contexto, primeiramente, procedemos a uma minuciosa revisão bibliográfica de modo a que compreendêssemos os conceitos e depois passássemos à prática com base em recursos sólidos. Nessa pesquisa, fizemos um levantamento e uma descrição dos diversos elementos de comunicação visual, assim como das respetivas técnicas. Assim sendo, toda essa descrição está devidamente exposta no nosso blog, também ele criado no âmbito da unidade curricular.
            Após esta pesquisa, procedeu-se então à composição do CD e da respetiva capa, elaborados com base na escolha de uma música por nós selecionada, onde foram aplicados os elementos e as técnicas de comunicação visual previamente estudadas.


Música Escolhida

Para a realização deste projeto, como foi anteriormente mencionado, foi necessário escolher uma música de modo a que, a partir dessa, fosse possível elaborarmos um CD e a respetiva capa. De uma lista de músicas vasta e após debates constantes, “Take Your Time”, música de Sam Hunt, foi a nossa escolha; e foi a nossa escolha por vários motivos.
Em primeiro lugar, um dos aspetos que nos levou à escolha da música foi a conjugação do ritmo, da melodia, da letra e da própria interpretação que o artista desenvolveu, gerando um resultado capaz de unir um pouco da música R&B e da música country originando um projeto que, na nossa opinião, ficou bastante coeso.
Por outro lado, tratando-se o nosso trabalho da composição da capa de um CD, apercebemos-mos da necessidade de esta corresponder aos gostos do público. E foi esse outro dos aspetos que nos conduziu até à escolha desta música: tratando-se do primeiro single do álbum e, simultaneamente, da música com um maior número de visualizações, é nos possível afirmar que esta foi, de facto, a música que o artista mais privilegiou, mas também, e por outro lado, a música com a qual os ouvintes mais se identificaram.          
Contudo, e focando-nos mais na nossa tarefa e naquilo que ela nos exigia, a escolha desta música prendeu-se ainda com outra razão: a sua história. Esta, para além de transmitir uma mensagem bastante assertiva, fez-nos suscitar desde logo vários sentimentos que, traduzidos para a prática, poderiam dar origem a elementos visuais interessantes, o que viria facilitar o nosso trabalho e gerar um design mais apelativo. 

Interpretação da Música

Todo o enredo se desenvolve em torno de um jovem que deambula pela vida da mulher que ama mesmo sem a conhecer, ansiando um dia partilhar a sua vida com ela. Essa mesma mulher é vítima de violência doméstica por parte do seu marido e a atitude passiva do cantor tornou-se um prazer para ele, e viria a constituir-se como a salvação dela.
Desde os primeiros versos, o cantor e protagonista da história dá a entender a paixão que sente pela mulher que procura salvaguardar (“My heart is pounding…”), uma mulher (“girl”) de olhar intimidante (“Your eyes are so intimidating”) e de sorriso cativante (“You probably smile like that all the time”). Contudo, ao não se conhecerem (“you don’t know me”), trata-se de um amor de certa forma não correspondido.
Ainda assim, toda a letra da música se trata de uma declaração de amor, respeito e proteção, em que o jovem admite que quer fazer dela uma mulher feliz, não pretendendo retirar-lhe qualquer tipo de liberdade, nem querendo assumir um papel opressivo onde as liberdades individuais não são respeitadas.
Na sequência deste parecer, o cantor apresenta então o seu mote de partida que será reforçado sistematicamente ao longo da narrativa através do verso “I just wanna take your time”: o desejo de apenas consumir um pouco do tempo da jovem, não para a reprimir, mas sim para lhe dar aquilo que o seu companheiro não lhe dava.
            É de salientar ainda que a música chama a atenção para a beleza da mulher que cativa o sexo oposto, em que o cantor mostra, mais uma vez, o seu carácter carinhoso, mas demonstrando em simultâneo o seu carácter de certa forma paternal, preocupado com a sua amada (“And some guys getting too close/ Trying to pick you up/ Trying to get you drunk”).
Apesar de tudo isto, consoante a história se vai desenrolando, o cantor dá a entender que, finalmente, os protagonistas se cruzam, despertando assim a curiosidade do público para um eventual envolvimento (“But you're still here/ And I'm still here/ Come on let's see where it goes”).

Composição Visual


Fase Pré Produção

A fase pré-produção faz referência a todo o processo de inspiração, assim como de recolha de informação (denominado por fase exploratória). Procurando sempre ser fiel à letra e à história da música selecionada, ficou decidido expor na capa do CD um casal que representasse os protagonistas da música.
Estabelecido o conceito da capa, numa 1ª fase, iniciámos um processo de recolha de material de inspiração que se concretizou na seleção de imagens em diferentes plataformas digitais, tais como: Instagram, Pinterest, Tumblr. É de salientar que todas as imagens pesquisadas manifestam um padrão de semelhança entre si, ou seja, todas retratam um casal apaixonado. Destacámos, ainda, que algumas das imagens recolhidas exibem um outro elemento (a guitarra) que, por sua vez, se revela como um elemento marcante na nossa composição, surgindo como um elemento apaziguador e harmonioso.

Material Recolhido







Posteriormente, numa 2ª fase, decidimos realizar um ensaio fotográfico de modo a garantir que o conceito do projeto fosse respeitado e a mensagem da música fosse transmitida.
Após a realização da sessão, iniciámos um processo de seleção das fotografias que maior concordância revelassem com o conceito da nossa capa e do CD. Como se pode observar, as duas imagens expostas são as duas fotografias selecionadas.



Após todos os parâmetros e detalhes serem estabelecidos, partimos, então, para a construção e edificação do projeto.

Composição e simbologia do CD e respetiva Capa

Após a análise e interpretação da música e depois da fase exploratória anteriormente evidenciada, tornou-se imperativo começar a composição visual. Depois de variadas tentativas, o resultado final foi o seguinte: 



Para compormos estas imagens, procuramos, sobretudo, ser fieis à letra da música (cuja letra e tradução se encontram devidamente publicadas no nosso blog), ao seu videoclip e à sua história, mas procuramos sobretudo transmitir os sentimentos que a música transmitia. Assim sendo, e para que essa correspondência seja bem entendida, fizemos a seguinte tabela de modo a que pudéssemos fazer corresponder as sensações que a música transmite aos elementos patentes na composição visual produzida.


Análise da Capa do CD

Fazendo jus à história retratada na música, o objetivo da composição visual da capa do CD passa exatamente por representar um homem que deambula pela cidade com uma guitarra na mão protegendo uma mulher que ele não conhece, mas que ama. Em suma, a capa deve funcionar, por si só, como uma narrativa da história, apresentada de forma gráfica através da utilização de elementos básicos aliados a minuciosas técnicas de comunicação visual.
Utilizando uma das imagens por nós capturada e apresentada na fase da pré produção, foram feitos os contornos das figuras humanas. Essas, a olhar para lados opostos, simbolizam o desencontro quer físico quer emocional das personagens. As duas figuras encontram-se ainda fragmentadas através de linhas e formas pretas, que representam as quebras emocionais, o obscuro e o desconhecido. Por fim, e apenas como pormenor, achamos que seria mais realista representar a figura masculina com a guitarra que o acompanha ao longo do videoclip demonstrando que a música é a sua companheira enquanto ele vagueia pela cidade.

Na capa do CD, ao centro, foi também usada uma mancha de tinta, propositadamente em forma de coração, representando o amor escondido pela figura masculina. Esta mancha, imitando o efeito de aguarela, simboliza a intensidade e a explosão de sentimentos, reforçado com a cor vermelha que representa, em simultâneo, o amor sentido pela figura masculina, mas também a violência, da qual a figura feminina é vitima. A alternância de tons de cor representa também o misto de emoções vividas.

Análise do CD

            Na criação do CD procuramos, sobretudo, criar um fio condutor com a capa já criada, mas sem nunca desrespeitar a música em que nos baseamos.
Nesse sentido, tal como na capa, também no CD foi feito o contorno de um dos elementos mais marcantes no videoclip: desta vez, a guitarra. A representação desta faz todo o sentido na medida em que é um elemento que acompanha a personagem ao longo da história. Sobre a guitarra, vêm-se duas mãos dadas e este é outros elementos fundamentais nesta composição. O dar das mãos simboliza a união, o companheirismo, o cuidado, o respeito, a cumplicidade, a amizade, o amor, a confiança. Em suma, representam uma forma amistosa de se comunicar. Mesmo não se conhecendo, a figura masculina protege incansavelmente a figura feminina, amparando-a e protegendo-a.
Por fim, o fundo surge liso, todo preto, para demarcar a solidão e o medo. A ausência de luz transmite a ausência de felicidade, contrastando com as cores vibrantes da capa que transmitem o amor.

Elementos e Técnicas de Comunicação Visual Empregues

Para além de toda a simbologia patente nas composições visuais, o objetivo primordial do trabalho foi também cumprido: dar uso aos elementos de comunicação visual e às respetivas técnicas previamente analisadas aquando da contextualização teórica.
A linha é, claramente, o elemento de comunicação mais patente. Esta, segundo a perspetiva de Donis A. Dondis (2003), quer seja usada com flexibilidade ou com precisão, é o “instrumento fundamental da pré visualização”, contribuindo assim de forma significativa para o processo de perceção visual. Posto isto, apresentando-se, em partes, imprecisa e indisciplinada, mas noutras, delicada e rigorosa contribuiu para a atribuição de formas, mas também para o alcance de volume em formas que assim o pediam (como, por exemplo, a guitarra patente no CD).
O ponto, enquanto “elemento mínimo da comunicação” (Mesquita, 2014: 16) resultante do “primeiro encontro do utensílio com a superfície material” (Kandinsky, 1996:38), foi igualmente estruturante para a composição visual. Este, apesar de ser extremamente simples, exerce sobre o recetor da mensagem visual um poder de atração.
Apesar de não ter sido utilizado por nós com tanta constância, este elemento foi igualmente útil na medida em que nos permitiu, desde logo, criar a forma do CD, assim como pormenorizar alguns detalhes (como a guitarra, por exemplo).
A forma é, indubitavelmente, outro dos elementos mais marcantes na nossa composição visual. Alternando formas geométricas, orgânicas e aleatórias, estas foram um dos elementos chave para a construção da composição, contribuindo assim para a sua estrutura e identidade.
Por sua vez, a justaposição de tons, isto é, o jogo entre a “intensidade da obscuridade ou claridade” (Dondis, 2003: 61) gera um jogo de tonalidades que nos permite distinguir os vários vermelhos existentes na composição. Essas “variações de luz ou de tom são os meios pelos quais distinguimos oticamente a complexidade da informação visual do ambiente” (Dondis, 2003: 61), gerando, de certa forma, uma espécie de textura implícita dentro do coração, conferindo-lhe dinamismo.
Por fim, a cor, também ela associada à luz, “está, de facto, impregnada de informação e é uma das mais penetrantes experiências visuais” (Dondis, 2003: 64). Para além de ser um elemento estético extremamente marcante, é também um elemento que comunica algo positivo ou negativo, contribuindo fortemente para a perceção e “leitura” da mensagem visual projetada pelo emissor.
Posto isto, a conjugação devidamente estruturada entre a matriz, a luminosidade e a saturação conduz-nos leva-nos até à cor pretendida, carregada de simbologia.
No nosso projeto em específico, a cor surge construindo uma espécie de analogia com os sentimentos transpassados pela composição musical. A conjugação entre o vermelho, o preto e o branco resultam como uma aglutinação entre o amor e, contrariamente, a violência que se faz sentir ao observar o videoclip, tal como foi referenciado no quadro das emoções anteriormente retratado.
Ainda assim, o uso e conhecimento destes elementos por si só não são suficientes para que seja possível realizar, de forma clara, uma “descodificação da mensagem pelo recetor que vá de encontro ao que o emissor quis dizer” (Mesquita, 2014: 15). Para que isso seja feito de forma eficaz, é indispensável o domínio de uma série de regras orientadoras, habitualmente designadas como “Técnicas de Comunicação Visual”.
No nosso projeto, houve sempre a preocupação de aliar, sempre, diversas técnicas de modo a gerar um resultado coeso, com significado e que pudesse então ser lido por quem o observa. Assim sendo, e analisando agora o processo final, manifestam-se técnicas como a regularidade (visível, por exemplo, nos fios da guitarra), o equilíbrio (obtido pela distribuição equilibrada e estratificada dos elementos), a profundidade (presente na guitarra do CD, bem como, nas caras dos protagonistas), a fragmentação dos corpos dos protagonistas, assim como outros não tão vincados como neutralidade, a opacidade, a agudeza e a justaposição, visível não só na variação das tonalidades de cores presentes no coração, mas também, na sobreposição de dois elementos (como a figuras humanas e o coração).
Posto isto, e como foi referido até então, são diversos os elementos básicos da comunicação visual e múltiplas as técnicas de os conjugar. Perante esta complexidade, “a nossa mente tende a agrupar elementos com características comuns, formando unidade visuais” (Mesquita, 2014: 35), sempre na busca de simplificação e compreensão da mensagem a ser compreendida.
Perante isto, as Leis de Gestalt – ou Princípios de Gestalt -  são formas naturalmente, biologicamente e neurologicamente encontradas pelo cérebro humano para resolver o problema da complexidade criada através das formas visuais.
De forma sintetizada, na nossa composição podemos verificar a lei do fechamento, afirmando que “o nosso cérebro tem a tendência de preencher certas falhas existentes, levando-nos a formar (fechar) determinados contornos” (Mesquita, 2014: 36), patente, por exemplo, em algumas linhas incompletas dos contornos humanos, a lei da proximidade, uma vez que “os objetos mais próximos entre si são percebidos como grupos independentes dos mais distantes, formando unidades visuais” (Mesquita, 2014: 37), a lei da similaridade/semelhança, uma vez que “os objetos gráficos tendem a agrupar-se quando têm características semelhantes” (Marinho, 2014: 36) e, por fim, a lei da figura-fundo uma vez que o fundo permite destacar os elementos que se sobrepõe, tanto na capa, como no CD.

Conclusão e Discussão do Resultado Final

Salientámos, desde já, o nosso agrado na concretização deste projeto, bem como, sobre o resultado final. Considerámos que todos os objetivos foram cumpridos com sucesso uma vez que tanto no blog “Design View”, por nós criado, como no projeto final, abordámos todos os tópicos pretendidos e orientámos a nossa atenção de forma a estabelecer um paralelismo entre a teoria e a prática.
De todas as fases subjacentes à concretização do projeto, é de salientar que o processo de construção foi o mais demorado e complicado, constituindo, deste modo, uma das nossas maiores fragilidades. Tal facto não está, de todo, relacionado com a má aplicação ou entendimento da ferramenta - o Illustrator - ou até pela escassez de ideias, mas sim, pela dificuldade em conjugar as cores com os elementos presentes. Tudo isto originou a criação exaustiva de amostras que, de certo modo, permitiram um enriquecimento do trabalho. 
Contudo, apesar deste contratempo, só temos a reforçar pontos positivos ao nosso trabalho como: a singularidade e diferenciação na medida em que procurámos realizar algo 100% nosso através, por exemplo, do ensaio fotográfico protagonizado. Por outro lado, estabelecemos também como ponto positivo o facto de tanto a capa como o CD ser manifestada uma concordância com a música.
            Por fim, analisando o trabalho desenvolvido no nosso blog, destacámos a boa organização do mesmo, bem como a exposição contínua e minuciosa dos conteúdos teóricos e de todas as fases do projeto prático. 



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