Introdução
A memória
descritiva aqui apresentada, realizada no âmbito da unidade curricular “Design
e Comunicação Visual” do curso de Ciências da Comunicação da Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, tem como objetivo primordial analisar uma
série de conceitos que nos foram expostos ao longo das aulas da unidade
curricular e, com base nesses conceitos, elaborar a composição visual de um CD
e da respetiva capa.
A composição visual é,
exatamente, “uma síntese entre intelecto e emoção, entre o princípio da ordem geométrica
e o da intuição” (Werner, 2015) exigindo a “distribuição harmoniosa de um
conjunto de elementos visuais, em que o lugar ocupado pelas figuras, os espaços
vazios que as rodeiam, as proporções, todos são importantes” (Osorio, 2012). Em
suma, a composição trata-se, exatamente, do aglutinar de diversos elementos
básicos (ponto, linha, forma, escala, cor, etc.) segundo variadas técnicas da
comunicação visual, gerando uma composição coesa que vá ao encontro das
pretensões do designer.
Perante este contexto, primeiramente,
procedemos a uma minuciosa revisão bibliográfica de modo a que compreendêssemos
os conceitos e depois passássemos à prática com base em recursos sólidos. Nessa
pesquisa, fizemos um levantamento e uma descrição dos diversos elementos de
comunicação visual, assim como das respetivas técnicas. Assim sendo, toda essa
descrição está devidamente exposta no nosso blog, também ele criado no âmbito
da unidade curricular.
Após esta
pesquisa, procedeu-se então à composição do CD e da respetiva capa, elaborados
com base na escolha de uma música por nós selecionada, onde foram aplicados os
elementos e as técnicas de comunicação visual previamente estudadas.
Música Escolhida
Para a realização deste projeto,
como foi anteriormente mencionado, foi necessário escolher uma música de modo a
que, a partir dessa, fosse possível elaborarmos um CD e a respetiva capa.
De uma lista de músicas vasta e após debates constantes, “Take Your Time”,
música de Sam Hunt, foi a nossa escolha; e foi a nossa escolha por vários
motivos.
Em primeiro
lugar, um dos aspetos que nos levou à escolha da música foi a conjugação do
ritmo, da melodia, da letra e da própria interpretação que o artista
desenvolveu, gerando um resultado capaz de unir um pouco da música R&B e da
música country originando um projeto que, na nossa opinião, ficou bastante coeso.
Por outro lado,
tratando-se o nosso trabalho da composição da capa de um CD, apercebemos-mos da
necessidade de esta corresponder aos gostos do público. E foi esse outro dos
aspetos que nos conduziu até à escolha desta música: tratando-se do primeiro
single do álbum e, simultaneamente, da música com um maior número de
visualizações, é nos possível afirmar que esta foi, de facto, a música que o
artista mais privilegiou, mas também, e por outro lado, a música com a qual os
ouvintes mais se identificaram.
Contudo, e
focando-nos mais na nossa tarefa e naquilo que ela nos exigia, a escolha desta
música prendeu-se ainda com outra razão: a sua história. Esta, para além de
transmitir uma mensagem bastante assertiva, fez-nos suscitar desde logo vários
sentimentos que, traduzidos para a prática, poderiam dar origem a elementos
visuais interessantes, o que viria facilitar o nosso trabalho e gerar um design
mais apelativo.
Interpretação da Música
Todo o enredo se desenvolve em
torno de um jovem que deambula pela vida da mulher que ama mesmo sem a
conhecer, ansiando um dia partilhar a sua vida com ela. Essa mesma mulher é
vítima de violência doméstica por parte do seu marido e a atitude passiva do
cantor tornou-se um prazer para ele, e viria a constituir-se como a salvação dela.
Desde os primeiros versos, o
cantor e protagonista da história dá a entender a paixão que sente pela mulher
que procura salvaguardar (“My heart is
pounding…”), uma mulher (“girl”)
de olhar intimidante (“Your eyes are so
intimidating”) e de sorriso cativante (“You
probably smile like that all the time”). Contudo, ao não se conhecerem (“you don’t know me”), trata-se de um amor
de certa forma não correspondido.
Ainda assim, toda a letra da
música se trata de uma declaração de amor, respeito e proteção, em que o jovem
admite que quer fazer dela uma mulher feliz, não pretendendo retirar-lhe
qualquer tipo de liberdade, nem querendo assumir um papel opressivo onde as
liberdades individuais não são respeitadas.
Na sequência deste parecer, o
cantor apresenta então o seu mote de partida que será reforçado
sistematicamente ao longo da narrativa através do verso “I just wanna take your time”: o desejo de apenas consumir um pouco
do tempo da jovem, não para a reprimir, mas sim para lhe dar aquilo que o seu
companheiro não lhe dava.
É de
salientar ainda que a música chama a atenção para a beleza da mulher que cativa
o sexo oposto, em que o cantor mostra, mais uma vez, o seu carácter carinhoso,
mas demonstrando em simultâneo o seu carácter de certa forma paternal,
preocupado com a sua amada (“And some guys getting too close/ Trying to pick
you up/ Trying to get you drunk”).
Apesar de tudo isto, consoante a
história se vai desenrolando, o cantor dá a entender que, finalmente, os
protagonistas se cruzam, despertando assim a curiosidade do público para um
eventual envolvimento (“But you're still here/ And I'm still here/ Come on
let's see where it goes”).
Composição Visual
Fase Pré Produção
A fase pré-produção faz referência a todo o processo de inspiração,
assim como de recolha de informação (denominado por fase exploratória). Procurando
sempre ser fiel à letra e à história da música selecionada, ficou decidido
expor na capa do CD um casal que representasse os protagonistas da música.
Estabelecido o conceito da capa, numa 1ª fase, iniciámos um processo de recolha de material de inspiração
que se concretizou na seleção de imagens em diferentes plataformas digitais,
tais como: Instagram, Pinterest, Tumblr. É de salientar que todas as imagens
pesquisadas manifestam um padrão de semelhança entre si, ou seja, todas
retratam um casal apaixonado. Destacámos, ainda, que algumas das imagens
recolhidas exibem um outro elemento (a guitarra) que, por sua vez, se revela
como um elemento marcante na nossa composição, surgindo como um elemento
apaziguador e harmonioso.
Material Recolhido
Posteriormente, numa 2ª
fase, decidimos realizar um ensaio fotográfico de modo a garantir que o
conceito do projeto fosse respeitado e a mensagem da música fosse transmitida.
Após a realização da sessão, iniciámos um processo de
seleção das fotografias que maior concordância revelassem com o conceito da
nossa capa e do CD. Como se pode observar, as duas imagens expostas são as duas
fotografias selecionadas.
Após
todos os parâmetros e detalhes serem estabelecidos, partimos, então, para a
construção e edificação do projeto.
Composição e simbologia do CD e respetiva Capa
Após a análise e interpretação da
música e depois da fase exploratória anteriormente evidenciada, tornou-se imperativo
começar a composição visual. Depois de variadas tentativas, o resultado final
foi o seguinte:
Para compormos estas imagens, procuramos, sobretudo, ser fieis à letra
da música (cuja letra e tradução se encontram devidamente publicadas no nosso
blog), ao seu videoclip e à sua história, mas procuramos sobretudo transmitir
os sentimentos que a música transmitia. Assim sendo, e para que essa
correspondência seja bem entendida, fizemos a seguinte tabela de modo a que
pudéssemos fazer corresponder as sensações que a música transmite aos elementos
patentes na composição visual produzida.
Análise da Capa do CD
Fazendo jus à história retratada
na música, o objetivo da composição visual da capa do CD passa exatamente por
representar um homem que deambula pela cidade com uma guitarra na mão
protegendo uma mulher que ele não conhece, mas que ama. Em suma, a capa deve
funcionar, por si só, como uma narrativa da história, apresentada de forma
gráfica através da utilização de elementos básicos aliados a minuciosas técnicas
de comunicação visual.
Utilizando uma das imagens por
nós capturada e apresentada na fase da pré produção, foram feitos os contornos das
figuras humanas. Essas, a olhar para lados opostos, simbolizam o desencontro
quer físico quer emocional das personagens. As duas figuras encontram-se ainda
fragmentadas através de linhas e formas pretas, que representam as quebras
emocionais, o obscuro e o desconhecido. Por fim, e apenas como pormenor,
achamos que seria mais realista representar a figura masculina com a guitarra
que o acompanha ao longo do videoclip
demonstrando que a música é a sua companheira enquanto ele vagueia pela cidade.
Na capa do CD, ao centro, foi
também usada uma mancha de tinta, propositadamente em forma de coração, representando
o amor escondido pela figura masculina. Esta mancha, imitando o efeito de
aguarela, simboliza a intensidade e a explosão de sentimentos, reforçado com a
cor vermelha que representa, em simultâneo, o amor sentido pela figura
masculina, mas também a violência, da qual a figura feminina é vitima. A
alternância de tons de cor representa também o misto de emoções vividas.
Análise do CD
Na criação
do CD procuramos, sobretudo, criar um fio condutor com a capa já criada, mas
sem nunca desrespeitar a música em que nos baseamos.
Nesse sentido, tal como na capa,
também no CD foi feito o contorno de um dos elementos mais marcantes no
videoclip: desta vez, a guitarra. A representação desta faz todo o sentido na
medida em que é um elemento que acompanha a personagem ao longo da história.
Sobre a guitarra, vêm-se duas mãos dadas e este é outros elementos fundamentais
nesta composição. O dar das mãos simboliza a união, o companheirismo, o
cuidado, o respeito, a cumplicidade, a amizade, o amor, a confiança. Em suma,
representam uma forma amistosa de se comunicar. Mesmo não se conhecendo, a
figura masculina protege incansavelmente a figura feminina, amparando-a e
protegendo-a.
Por fim, o fundo surge liso, todo
preto, para demarcar a solidão e o medo. A ausência de luz transmite a ausência
de felicidade, contrastando com as cores vibrantes da capa que transmitem o
amor.
Elementos e Técnicas de Comunicação Visual Empregues
Para além de toda a simbologia
patente nas composições visuais, o objetivo primordial do trabalho foi também
cumprido: dar uso aos elementos de comunicação visual e às respetivas técnicas
previamente analisadas aquando da contextualização teórica.
A linha é, claramente, o elemento de comunicação mais patente. Esta,
segundo a perspetiva de Donis A. Dondis (2003), quer seja usada com
flexibilidade ou com precisão, é o “instrumento fundamental da pré
visualização”, contribuindo assim de forma significativa para o processo de
perceção visual. Posto isto, apresentando-se, em partes, imprecisa e indisciplinada,
mas noutras, delicada e rigorosa contribuiu para a atribuição de formas, mas
também para o alcance de volume em formas que assim o pediam (como, por
exemplo, a guitarra patente no CD).
O ponto, enquanto “elemento mínimo da comunicação” (Mesquita, 2014:
16) resultante do “primeiro encontro do utensílio com a superfície material”
(Kandinsky, 1996:38), foi igualmente estruturante para a composição visual.
Este, apesar de ser extremamente simples, exerce sobre o recetor da mensagem
visual um poder de atração.
Apesar de não ter sido utilizado
por nós com tanta constância, este elemento foi igualmente útil na medida em
que nos permitiu, desde logo, criar a forma do CD, assim como pormenorizar
alguns detalhes (como a guitarra, por exemplo).
A forma é, indubitavelmente, outro dos
elementos mais marcantes na nossa composição visual. Alternando formas
geométricas, orgânicas e aleatórias, estas foram um dos elementos chave para a
construção da composição, contribuindo assim para a sua estrutura e identidade.
Por sua vez, a justaposição de tons, isto é, o jogo entre a
“intensidade da obscuridade ou claridade” (Dondis, 2003: 61) gera um jogo de
tonalidades que nos permite distinguir os vários vermelhos existentes na
composição. Essas “variações de luz ou de tom são os meios pelos quais
distinguimos oticamente a complexidade da informação visual do ambiente”
(Dondis, 2003: 61), gerando, de certa forma, uma espécie de textura implícita dentro do coração,
conferindo-lhe dinamismo.
Por fim, a cor, também ela associada à luz, “está, de facto, impregnada de
informação e é uma das mais penetrantes experiências visuais” (Dondis, 2003:
64). Para além de ser um elemento estético extremamente marcante, é também um
elemento que comunica algo positivo ou negativo, contribuindo fortemente para a
perceção e “leitura” da mensagem visual projetada pelo emissor.
Posto isto, a conjugação
devidamente estruturada entre a matriz, a luminosidade e a saturação conduz-nos
leva-nos até à cor pretendida, carregada de simbologia.
No nosso projeto em específico, a
cor surge construindo uma espécie de analogia com os sentimentos transpassados
pela composição musical. A conjugação entre o vermelho, o preto e o branco
resultam como uma aglutinação entre o amor e, contrariamente, a violência que
se faz sentir ao observar o videoclip, tal
como foi referenciado no quadro das emoções anteriormente retratado.
Ainda assim, o uso e conhecimento
destes elementos por si só não são suficientes para que seja possível realizar,
de forma clara, uma “descodificação da mensagem pelo recetor que vá de encontro
ao que o emissor quis dizer” (Mesquita, 2014: 15). Para que isso seja feito de
forma eficaz, é indispensável o domínio de uma série de regras orientadoras,
habitualmente designadas como “Técnicas de Comunicação Visual”.
No nosso projeto, houve sempre a
preocupação de aliar, sempre, diversas técnicas de modo a gerar um resultado
coeso, com significado e que pudesse então ser lido por quem o observa. Assim
sendo, e analisando agora o processo final, manifestam-se técnicas como a regularidade (visível, por
exemplo, nos fios da guitarra), o equilíbrio
(obtido pela distribuição equilibrada e estratificada dos elementos), a
profundidade (presente na guitarra
do CD, bem como, nas caras dos protagonistas), a fragmentação dos corpos dos protagonistas, assim como outros não
tão vincados como neutralidade, a opacidade, a agudeza e a justaposição, visível
não só na variação das tonalidades de cores presentes no coração, mas também,
na sobreposição de dois elementos (como a figuras humanas e o coração).
Posto isto, e como foi referido
até então, são diversos os elementos básicos da comunicação visual e múltiplas
as técnicas de os conjugar. Perante esta complexidade, “a nossa mente tende a
agrupar elementos com características comuns, formando unidade visuais”
(Mesquita, 2014: 35), sempre na busca de simplificação e compreensão da
mensagem a ser compreendida.
Perante isto, as Leis de Gestalt – ou Princípios de Gestalt - são formas naturalmente, biologicamente e
neurologicamente encontradas pelo cérebro humano para resolver o problema da
complexidade criada através das formas visuais.
De forma sintetizada, na nossa composição podemos verificar
a lei do fechamento, afirmando que
“o nosso cérebro tem a tendência de preencher certas falhas existentes,
levando-nos a formar (fechar) determinados contornos” (Mesquita, 2014: 36),
patente, por exemplo, em algumas linhas incompletas dos contornos humanos, a lei da proximidade, uma vez que “os
objetos mais próximos entre si são percebidos como grupos independentes dos
mais distantes, formando unidades visuais” (Mesquita, 2014: 37), a lei da similaridade/semelhança, uma
vez que “os objetos gráficos tendem a agrupar-se quando têm características
semelhantes” (Marinho, 2014: 36) e,
por fim, a lei da figura-fundo uma
vez que o fundo permite destacar os elementos que se sobrepõe, tanto na capa,
como no CD.
Conclusão e Discussão do Resultado Final
Salientámos,
desde já, o nosso agrado na concretização deste projeto, bem como, sobre o
resultado final. Considerámos que todos os objetivos foram cumpridos com
sucesso uma vez que tanto no blog “Design
View”, por nós criado, como no projeto final, abordámos todos os tópicos
pretendidos e orientámos a nossa atenção de forma a estabelecer um paralelismo
entre a teoria e a prática.
De todas as
fases subjacentes à concretização do projeto, é de salientar que o processo de
construção foi o mais demorado e complicado, constituindo, deste modo, uma das
nossas maiores fragilidades. Tal facto não está, de todo, relacionado com a má
aplicação ou entendimento da ferramenta - o Illustrator
- ou até pela escassez de ideias, mas sim, pela dificuldade em conjugar as
cores com os elementos presentes. Tudo isto originou a criação exaustiva de
amostras que, de certo modo, permitiram um enriquecimento do trabalho.
Contudo, apesar
deste contratempo, só temos a reforçar pontos positivos ao nosso trabalho como:
a singularidade e diferenciação na medida em que procurámos realizar algo 100%
nosso através, por exemplo, do ensaio fotográfico protagonizado. Por outro
lado, estabelecemos também como ponto positivo o facto de tanto a capa como o
CD ser manifestada uma concordância com a música.
Por
fim, analisando o trabalho desenvolvido no nosso blog, destacámos a boa
organização do mesmo, bem como a exposição contínua e minuciosa dos conteúdos
teóricos e de todas as fases do projeto prático.








Sem comentários:
Enviar um comentário