terça-feira, 14 de março de 2017

Técnicas de Comunicação Visual



“As imagens converteram-se, então, em escrita, que fixava de tal maneira o pensado e o falado, que o representava uma e outra vez sem limitações, que fazia possível a leitura”.

Perante toda a identificação e distinção entre os vários elementos básicos da comunicação visual anteriormente discriminados, é nos possível afirmar que estes são, de facto, a base da imagem e a base da composição visual, dinamizando todo o processo de comunicação.
Ainda assim, o uso e conhecimento destes elementos por si só não são suficientes para que seja possível realizar, de forma clara, uma “descodificação da mensagem pelo recetor que vá de encontro ao que o emissor quis dizer” (Mesquita, 2014: 15). Para que isso seja feito de forma eficaz, é indispensável o domínio de uma série de regras orientadoras. Essas regras, habitualmente denominas como “Técnicas da Comunicação Visual” não devem limitar a criatividade do designer, mas sim orientá-lo no seu processo de criação.
Tal como Mesquita mencionou (2014), uma analogia que expressa na perfeição a realidade deste efeito é a culinária. “Não basta termos os ingredientes para cozinhar um bom prato. Existe todo um conhecimento e um ritual de preparação que um bom cozinheiro domina e que faz a diferença no resultado final, comparativamente com um simples curioso da cozinha” (Mesquita, 2014: 15).
Neste sentido, analisaremos daqui em diante essas mesmas técnicas de comunicação visual. Assim, para que haja um fio condutor entre conteúdos, também nesta secção serão utilizadas as técnicas mencionadas por Donis A. Dondis, no ano de 1991: equilíbrio/ instabilidade, simetria/ assimetria, regularidade/ irregularidade, simplicidade/ complexidade, unidade/fragmentação, economia/profusão, minimização/ exagero, previsibilidade/ espontaneidade, atividade/ estase, sutileza/ ousadia, neutralidade/ ênfase, transparência/opacidade, estabilidade/variação, exatidão/ distorção, planura/ profundidade, singularidade/ justaposição, sequencialidade/ acaso, agudeza/ difusão e repetição/episodicidade.

Equilíbrio/ Instabilidade

A obtenção do equilíbrio é um dos princípios mais importantes da vida humana e, inerentemente, da comunicação visual. Este ocorre quando “existe uma compensação entre todas as forças envolvidas na composição e quando o peso visual está devidamente distribuído pelo espaço” (Mesquita, 2014: 39). Pelo contrário, a instabilidade refere-se à ausência de equilíbrio, ou seja, quando algum elemento da imagem é visualmente mais pesado e denso.

Simetria/ Assimetria
A simetria é uma das formas de se obter o equilíbrio. Trata-se de “uma formulação visual totalmente resolvida, em que cada unidade situada de um lado de uma linha central é rigorosamente repetida do outro lado” (Dondis, 2015: 142), contrariamente à assimetria em que os dois lados dessa linha imaginária não coincidem.



Regularidade/ Irregularidade
A regularidade, numa linguagem característica do design, implica o desenvolver de uma espécie de sequência, cuja ordem se baseia “em algum princípio ou método constante e invariável” (Dondis, 2015: 143). Por sua vez, a irregularidade é inesperada e não obedece a nenhuma estrutura sequencial devidamente organizada.



Simplicidade/Complexidade
A simplicidade trata-se de uma técnica visual livre de elementos muito densos, onde reina, essencialmente, a elementaridade. Por sua vez, a complexidade implica a existência de diversos elementos de comunicação em simultâneo, frequentemente sobrepostos. Deste processo resulta uma difícil interpretação por parte do recetor, isto é, um “difícil processo de organização do significado” (Dondis, 2015: 144).


Unidade/ Fragmentação
Tal como a denominação assim indica, a unidade é a associação de diversas unidades que, juntas, harmonizam-se de tal forma como criam uma única unidade completa.  Por sua vez, a fragmentação é exatamente o processo inverso, isto é, trata-se da segmentação de uma unidade em diversos elementos que podem relacionar-se entre si, mas que assumem de forma individual a sua identidade.




Economia/ Profusão
A economia trata-se de uma disposição visual moderada e organizada, onde os elementos da comunicação visual são devidamente pensados, de modo a que não se caia num exagero. Literalmente, é feita uma economia dos elementos, enfatizando, segundo Dondis (2015), o conservadorismo e a pobreza. Pelo contrário, a profusão é carregada de detalhe, associando-se então à riqueza da composição.

Minimização/ Exagero
O único aspeto que distingue estas duas técnicas das técnicas anteriores é, exclusivamente, o contexto em que ocorrem uma vez que, apesar de servirem fins semelhantes esses ocorrem em diferentes contextos. A minimização procura, através de elementos de comunicação visual muito simples, captar a totalidade da concentração do recetor. Por sua vez, o exagero deve abusar de elementos de comunicação visual “ampliando a sua expressividade para muito além da verdade” (Dondis, 2015: 147).
Previsibilidade/ Espontaneidade
Tal como os termos indiciam, a previsibilidade associa-se a algo que seja passível de se adivinhar à priori, caindo assim no convencional; já a espontaneidade é uma técnica livre e aparentemente desorganizada que dá a entender que houve uma falta de planeamento.
Atividade/ Estase
A atividade associa-se ao movimento e ao dinamismo. Por sua vez, a estase remete-nos para o imóvel e para o bloqueio. Esta é feita através do equilíbrio absoluto apresentando assim um efeito de tranquilidade.


Sutileza/ Ousadia
Segundo Dondis, a sutileza é a técnica que deve ser escolhida de modo a fugir “a toda a obviedade e firmeza” (Dondis, 2015: 150). Pelo seu turno, a ousadia associa-se ao original e não vulgar, devendo o designer, por isso, “agir com audácia, segurança e confiança, uma vez que seu objetivo é obter a máxima visibilidade” (Dondis, 2015: 150).
Neutralidade/ Ênfase
Segundo Dondis, a neutralidade refere-se a uma “configuração menos provocadora de uma manifestação visual” (Dondis, 2015: 151). Contrariamente, o ênfase procura destacar um único elemento onde predomina a uniformidade de um outro elemento.
Transparência/Opacidade
A transparência implica que, perante um elemento, seja possível ver algo atrás dele, demonstrando que a sua cor não é totalmente densa e compacta. Por sua vez, a opacidade é exatamente o inverso, isto é, trata-se de uma estrutura que bloqueia totalmente aquilo que está atrás de si, sobrepondo-se.
Estabilidade/Variação
A estabilidade pressupõe, segundo Dondis, a “compatibilidade visual e desenvolve uma composição dominada por uma abordagem temática uniforme e coerente” (Dondis, 2015: 153). Já a variação implica mutações frequentes.

Exatidão/ Distorção
“A exatidão é a técnica da experiência visual e natural (…) e sua utilização pode implicar muitos truques e convenções destinados a reproduzir as mesmas pistas visuais que o olho transmite ao cérebro”. Por seu turno, a distorção deturpa o realismo, procurando desviar-se da forma regular e, em muitos casos, da própria forma real do objeto.


Planura/ Profundidade
O que rege estas duas técnicas é a presença ou ausência de perspetiva. A impressão de planura e profundidade pode ainda ser atenuada ou intensificada através do uso de efeitos de luz e sombra, com o objetivo de sugerir ou de eliminar a dimensão.

Singularidade/ Justaposição
Segundo Dondis, a singularidade “equivale a focalizar, numa composição, um tema isolado e independente, que não conta com o apoio de quaisquer outros estímulos visuais” (Dondis, 2015: 156). Pelo contrário, a justaposição exprime a interação entre diversos elementos de comunicação.




Sequencialidade/ Acaso
A sequencialidade implica uma ordem lógica formando, geralmente, uma ordem lógica. Pelo contrário, o acaso não exige a existência de nenhuma ordem especifica, pelo contrário, os elementos são apresentados, aparentemente, de forma aleatória, não sendo alvo de qualquer planeamento. 





Agudeza/ Difusão
A agudeza é conseguida através da rigidez dos contornos gerando um efeito final claro e de fácil interpretação. Contrariamente, a difusão é suave e os contornos não são vincadamente demarcados.

Repetição/ Episodicidade
A repetição exige continuidade e trata-se da “força coesiva que mantém unida uma composição de elementos díspares” (Dondis, 2015: 159). Por sua vez, “as técnicas episódicas indicam, na expressão visual, a desconexão, ou, pelo menos, apontam para a existência de conecções muito frágeis” (Dondis, 2015: 159).




Perante esta exaustiva e detalhada análise, podemos afirmar que é ampla a lista de técnicas de comunicação visual e que a sua aplicação conduzirá a um design mais estruturado, gerando mensagens visuais universais. Estas técnicas permitem, simultaneamente, orientar e clarificar o artista, auxiliando-o no seu processo criativo e executivo, na busca de uma linguagem visual por todos compreendida.








Sem comentários:

Enviar um comentário